"(...)Achei por muito tempo que ia ser professor.
Tinha pensado em livros a vida inteira. Era-me imperiosa a dedicação a aprender
e não guardava dúvidas acerca da importância de ensinar. (...)
Os alunos nascem diante dos professores, uma e outra vez.
Surgem de dentro de si mesmos a partir do entusiasmo e das
palavras dos professores que os transformam em melhores versões. Quantas vezes
não me senti outro, depois de uma aula brilhante. Punha-me a caminho de casa
como se tivesse crescido um palmo inteiro nesses cinquenta minutos. Como se
fosse muito mais gente. Cheio de um orgulho comovido por haver tantos assuntos
incríveis para se discutir e por merecer que alguém os discutisse comigo. (...)
Nas escolas reside a esperança toda de que, um dia, o mundo seja um condomínio de gente bem formada, apaziguada com a sua condição mortal mas esforçada para se transcender no alcance da felicidade. E a felicidade, disso já sabemos todos, não é individual. É obrigatoriamente uma conquista para um coletivo. Porque sozinhos por natureza andam os destituídos de afeto. (...)"
Autobiografia Imaginária | Valter Hugo Mãe | JL Jornal de Letras, Artes e Ideias | Ano XXII | Nº 1095 | 19 de Setembro de 2012.
Valter Hugo Mãe
Escritor, editor e artista plástico, cursou pós-graduação em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea na Universidade do Porto.
Possui livros publicados de poesia, contos e narrativa longa,
romances.
Em 2007, recebeu o Prêmio Literário José Saramago com o seu
segundo romance, O Remorso de Baltazar Serapião.
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